Desde que nascemos somos submetidos a acreditar, cegamente, nas construções sociais que as instituições promovem. E como uma criança nascida dum berço d’ouro, estas construções parecem ser até mais fortes. Então desde pequeno meus pais me dizem a estranha frase: “não fale com estranhos!”, o que gerou em mim um tremendo medo dos desconhecidos das ruas; desde meus anos pueris eu vivo dentro de muros e grades que me separam da cidade, como se ela fosse um mal pungente, que poderia me ferir, matar, estuprar, raptar, roubar… O que gera em mim medo do ambiente em que vivo. Como era criança, não tive a capacidade de definir o quão cuidadoso eu deveria ser com o meio urbano e acabei levando isto ao pé da letra: “Tudo aquilo que está fora do meu mundo (minha casa, minha escola, meu clube, etc.) é perigoso”. O resultado é que um medo ao desconhecido foi me abarcando e me retraindo cada vez mais ao universo e o mundo “”””””””””seguro””””””””””, o qual foi se tornando o único mundo passível de ser vivido.
Com o tempo, fui percebendo que não; que o mundo não era somente aquela bolha casa-escola-clube-amigos-shoppings. Comecei a achar os meus pais ‘noiados’ demais com essa ideia de segurança, apesar de entender que de fato há uma certa violência onde vivo. Decidi então me deixar submergir ao meio urbano de São Paulo e tentar negar toda aquela tradição do medo que as instituições me impunham. Se funcionou? Sim, estou vivo até hoje e não me arrependo de nada. Percebi com o tempo, que o mundo era muito mais que o meu mundo; percebi que existiam outras pessoas, outras realidades, com outras histórias e outros contextos que eu poderia desfrutar também, mas que isto seria possível somente pelo contato com o diferente.
Chegou então o Móbile na Metrópole. No começo deste ano, eu me considerava já bem inserido em São Paulo, um real cidadão, pois eu “não tinha preconceitos” e estava “disposto a abraçar o mundo”. Boto estas falas entre aspas, pois eram falas que eu mesmo dizia. Quando comecei o projeto, portanto, achava que ele nada iria acrescentar a mim. Porém, o choque entre a maneira como achávamos que a população via os artistas de rua e como elas de fato os viam, me fez perceber que eu ainda tinha muitos preconceitos; que eu ainda adquiria verdades como inexoravelmente certas sem muito pensar a respeito. Este embate entre teoria e prática demonstrou que ainda havia muito a caminhar na minha relação com a cidade. Percebi que deveria deixar a minha arrogância de lado, ser mais humilde e encarar as pessoas sempre como uma novidade, ou seja, não tentar rotulá-las de modo maniqueísta (como “boas” ou “más”), mas, sim, olhar para elas sempre como uma interrogação que apenas uma relação de igual para igual iria trazer à luz.
Portanto devo muito ao Móbile na Metrópole por ter me ajudado a dar um passo adiante na minha relação com a cidade e por ter me tirado da conformidade e da arrogância. A caminhada para a construção de uma cidadania melhor para mim poderá ser levada adiante por outros fatores, que só poderão acontecer devido ao ganhos do MNM.
Fiquei entre dúvida se deveria acabar este post com esta declaração ou se pareceria muita puxação de saco fazer isto, mas quanto mais eu pensava, mais me parecia certa a ideia de fazer tal declaração. Então quero agradecer aos meus professores criadores deste projeto pela oportunidade e pela experiência. Devo muito a vocês. E quero destacar a minha admiração e reconhecimento pelo trabalho de vocês, não somente pelo Móbile na Metrópole, mas por tudo que vocês fazem e já fizeram em sala de aula. Obrigado a todos meus professores e um especial carinho ao André, o Fepa, o João e a Teresa.
- Ricardo Feliz Okamoto